sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Por Onde Andará Macunaíma?

              jogo de dadaísta

não sou iluminista/nem pretender

eu quero o cravo e a rosa

cumer o verso e a prosa

devorar a lírica a métrica

a carne da musa

seja branca/negra

amar/ela vermelha verde

ou cafusa

eu sou do mato curupira carrapato

eu sou da febre sou dos ossos

sou da lira do delírio

e virgílio é o meu sócio

pernambuco amaralina

vida leve ou sempre/vida severina

sendo mulher ou só menina

que sendo santa prostituta

ou cafetina

devorar é minha sina

profanar é o meu negócio

 

Artur Gomes

Juras Secretas

leia mais no blog

https://secretasjuras.blogspot.com/

 

clique no link para v(l)er o vídeo filmado em Gargaú por Letícia Rcha com trilha sonora de Fil Buc

https://www.youtube.com/watch?v=szABRGqMqH8&t=10s

No próximo vinte e dois deste setembro dois mil e vinte e cinco finco os olhos na tela do ArteCult.com para v(l)er por onde andará Macunaíma?, coluna assinada pelo “bardo da cacomanga”. E por onde andará Macunaíma? Pelo polo sul ou norte? Ainda andará nos traços a lápis de José César Castro, o fógrafo/desenhista que não é casto?  Talvez com um pouco de sorte nos encontremos com ele naquela preguiça boa, escre/vivendo/falando poesia pelo litoral de São Francisco onde Itabapoana agora é pedra que voa.

E atenção jovens de Campos dos Goytacazes e região, no dia 27 deste na Casa de Cultura Villa Maria, você tem um encontro marcado com o Encontro Literário – Jovens Em Movimento – estejam atentos estejam alertas - mexam-se leiam pois só o conhecimento liberta  

Artur Gomes (Campos dos Goytacazes-RJ, 1948) é poeta, ator, produtor cultural e vídeo maker, com mais de cinco décadas de intensa atuação nas artes. Criador de projetos que marcaram a cena literária e audiovisual brasileira, como o FestCampos de Poesia Falada e a Mostra Visual de Poesia Brasileira, Artur construiu uma trajetória que une poesia, performance e experimentação multimídia.

Em 2019, lançou o Sarau Balbúrdia PoÉtica, que se tornou um espaço vibrante de celebração da poesia falada e da performance, circulando por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Cabo Frio e Campos dos Goytacazes. O projeto já realizou onze edições, incluindo participações em eventos de grande destaque, como a Bienal do Livro de Campos, e contou com apoio de instituições culturais e do portal ArteCult.com

Autor de mais de 15 livros publicados, entre eles Juras Secretas (2018), Pátria A(r)mada (2019, Prêmio Oswald de Andrade/UBE-Rio) e O Homem Com a Flor na Boca (2023), e Itabapoana Pedra Pássaro Poema (2025). Artur segue produzindo intensamente e difundindo a literatura contemporânea. Mantém o blog Nação Goytacá, https://arturgumes.blogspot.com/

 onde reúne a série TransPoÉticas – Coletânea de Poetas Vivos, reafirmando seu papel como articulador cultural e voz ativa da poesia brasileira.


Fulinaíma MultiProjetos

22 99815-1268 – zap

@fulinaima @artur.gumes – instagram

fulinaima@gmail.com

arturgomes@artecult.com

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Artur Gomes 77

 murilínDianamente

 

o poeta experimental

passeia sua cueca monossilábica

por cima dos pianos

na madrugada devorando amoras

 

macabea implora

nossa senhora das derrotas

para enfrentar o desvario

 

o poeta está nu cio. macabea corre

o poeta inflama em inverso

macabea chora

 

experimental barroco

o poeta sobrevoa

palácios e urubus

 

macabea tenta

mas não consegue ser pagu

o poeta é phoda

 

macabea pede

o menino faz que não entende

macabea implora

e o poeta põe na metáfora do cu

 

Artur Gomes

BraiLírica Pereira : A Traição das Metáforas

www.braziliricapereira.blogspot.com


 

 teresina

 

teu leite escorre

em minha boca

como cascata de chuva

 

depois que mordi a uva

e me levaste pra cama

em noites de teresina

 

deixei de ser menina

após o terceiro drama

 

Federika Lispector

www.suorecio.blogspot.com


antropofágica mente vamos comer 22


com uma câmera nas mãos

um poema na cabeça

vamos filmar o poema

antes que desapareça

 

 

 nathalia osório

 

nem sei quando te olhei a primeira vez

com esse olhar de capitu

mas já estava lá entre o sangue

a carne a pele os músculos

travegava na paisagem

como quem descasca uma manga

e despe até o caroço

era 5 horas da tarde de sol e árvores

de um dia que não sei qual era

mas já estava lá entre as retinas

a íris flor de lótus lírios

e o mar entre os cabelos

não eram ondas magnéticas

elétrica sinergia entre dois corpos animais

fôssemos cavalos aranhas mesmo  peixes

mas estava lá trêmula indecisa

e só falava entre os lábios

palavras que nem eu mesmo decifrava

quando toquei tuas mãos pela primeira vez

 

Artur Gomes

 

Baudelíricas Baudeléricas

 

não sou produto da massa

objeto vendido na TV

vivo distante das trapaças

meu sexo te dou de graça

madeira que se desdobra

sou o pau que matou a cobra

 

tenho pena de você

 

Federico Baudelaire

www.fulinaimicamente.blogspot.com

 

27 de agosto
com muito gosto
fazer setenta e sete
outra coisa me disse
fulinaíma
pra definir o que faço
o traço a cada compasso
pensado sentido vivido
estando inteiro
não par/ti/do
a língua ainda
entre/dentes
a faca
ainda mais afiada
a carNAvalha in/decente
escre/v(l)er
é tudo o que posso
pra desafinar os contentes
desempatar de/repente
o jogo dos reles bandidos
é tudo o que tenho feito
por mais que tenha sofrido
nas unhas dos dedos
nos nervos
na carnadura dos ossos

Artur Gomes

Hoje Balbúrdia PoÉtica especial
no Carioca Bar - Rua Francisca Carvalho de Azevedo, 17
Parque São Caetano - Campos dos Goytacazes-RJ
Espero vocês lá, a partir das 18h

leia mais no blog
Artur Fulinaimagens
https://fulinaimargens.blogspot.com/


terça-feira, 26 de agosto de 2025

com os dentes cravados na memória

 

no início da pesquisa chegamos a ter quase certeza que o personagem era Gina Rueles e o autor Fernando Leite, porque quando o Boi Pintadinho entrou no mercado municipal começou o alvoroço com Ferrugem enfrentando os feirantes com um pedaço de pau que arrancou de uma barraca e o Boi saiu louca disparada pela beira-valão e só foi parar em frente a antiga câmara de vereadores na esquinada Av. Alberto Torres Amauri Joviano entrou no bar mais próximo pediu água como não tinha bebeu água-ardente mesmo. depois de serenado os ânimo fomos parar na livraria noblesse, o saudoso Adilson Rangel, nos alojou no recinto com Boi e tudo, e foi uma tarde de muita cerveja queijos e vinhos. na correria do Boi - Gina foi atropelada por uma carroça de burro. depois de medicada no pronto-socorro mais próximo foi nos encontrar na noblesse – onde padre Fernando Rifan não cansava de urrar do outro lado da rua: “cambada de comunistas!”

Artur Gomes

com os dentes cravados na memória

www.fulinaimargem.blogspot.com

quando o prazo determinado

para entrega do trabalho estava terminando

e não tínhamos uma definição plena

nem do autor nem do personagem

a saída foi enveredarmos pela ficção

o que não deixou satisfeitos os componentes

da banca examinadora:  Orávio de Campos Soares, Hélio de Fretas Coelho e Raquel Fernandes. como nos vestígios que pudemos

que pudemos averiguar que o personagem

poderia ser um grande corrupto

que teria feito  carreira fazendo falsas

promessas para o povo do mercado

acabamos convencendo os mestres

que Brasília é muito distante

e que o personagem tinha fugido para lá

daí nossos argumentos foram aceitos

e o mercado municipal se transformou

em nossa ficção no planalto central

onde Godot possivelmente  teria se instalado

na câmara dos deputados como um aspone

qualquer desses tantos que existem por lá

 

Artur Fulinaíma

www.personasarturianas.blogspot.com

chegamos a ter quase certeza

que o personagem era Amauri Joviano

e o autor Adriano Moura mas toda vez

que nos   Boi Pintadinho

o bailarino entornava mis um copo

de cachaça com medo dos feirantes

que partiram para cima do Boi

por represália a sua dança sensualíssima

e provocante causando ofuror na feira municipal dos campos ex-dos Goytacazes

e assim nossa busca continuava sem ter fim

e como tínhamos que concluir o trabalho

com prazo determinado Evaristo Penha

foi o que mais se aproximou do alvo

que a nossa seta almejava alcançar

Artur Gomes Fulinaima

www.personasarturianas.blogspot.com

depois da nossa passagem

pelo mercado municipal

fiquei pensando quem poderia ser

o autor do personagem principal

ou mesmo o personagem do autor

que não entrou em cena

era uma comédia quase del´Art

uma pesquisa nos porões da cidade

onde todos eles habitavam o curral das éguas

mas não devia ter toques de ficção

teríamos que descobrir o autor e

o personagem na vida real

não foi fácil, todos se esquivavam

das perguntas quando encontrávamos

algum para EntreVistas assim mesmo

fomos traçando os perfis de todos

como se fossem eles mesmos

as personalidades que encontramos

 

Federico Baudelaire


ainda ontem acordei pensando

nos 6 autores em busca do personagem

que estudei para interpretar

lá pelos idos dos anos 2000 no Cefet

em Campos tudo é obscuro

tateava no escuro as passadas

dele no mercado municipal

mas era difícil encontrá-lo

montamos assim mesmo como se Godot

fosse o personagem que procurávamos

e como ele não vinha não esperamos

criamos a encenação mesmo avessa

ao propósito inicial que era encontrar

um personagem que fosse uma persona

com características da cidade

o mais próximo que encontramos

foi um caixeiro viajante de nome

Evaristo Penha, e assim ficou como se fosse

Rúbia Querubim

www.personasarturianas.blogspot.com

sábado, 9 de agosto de 2025

Artur Gomes 77 Anos de Vida e 52 de Poesia

Balbúrdia PoÉtica

 

Federico rasgou a rede

cortou a censura

colocou a dita/dura

                     na parede

 

poesia ali na mesa

geleia geral – relâmpagos

faíscas da surpresa

 

diariamente no blog

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/

Clarice Cruz Terra
OS CAMINHOS QUE ME TROUXERAM ATÉ AQUI

Quando me vejo retornando à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), onde cursei Licenciatura em Teatro entre os anos de 1997 e 2002, para falar sobre teatro e sobre o ensino profissionalizante, parece que alguns ciclos estão se completando, ou se conectando.

É curioso pensar que estudei na Escola Técnica Federal de Campos, que hoje é a sede do Instituto Federal Fluminense (IFF), escola que possui catorze campi no Estado do Rio e um deles é Macaé, onde eu hoje trabalho. Lá eu fiz o curso Técnico de Química (quem diria?).

Mas, na verdade, cursei apenas dois dos quatro anos. O que aconteceu nesta escola e que mudou a minha vida de forma decisiva - eu tinha planos de seguir estudando na área das ciências - foi o fato de ter feito a Oficina de Teatro na escola, com o professor Artur Gomes, um poeta campista que desenvolvia um trabalho essencialmente performático conosco.

 Lembro-me, por exemplo, de uma intervenção que fizemos na cantina da escola, em que andávamos perguntando às pessoas na fila do caixa: “Quanto custa um sonho na cantina?”.

Andamos também pelos corredores da escola como em uma procissão cantando músicas de Milton Nascimento, entre outras propostas das quais ainda me recordo com certa clareza, apesar de mais de 20 anos já terem se passado. Como já disse, não concluí o curso técnico. Saí da escola e cursei um ensino médio propedêutico em uma escola estadual, mas continuei por mais alguns anos trabalhando com o Artur, ainda depois de sair de Campos para morar no Rio e cursar a faculdade de Teatro na UNIRIO. Sim, esta experiência foi decisiva para me levar a esta faculdade!

Obs.: introdução da Dissertação apresentada como pré-requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ensino de Artes Cênicas pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de Artes Cênicas, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) 


    entri / dentes


queimando em Mar de Fogo me Registro
lá no fundo do teu íntimo
bem no branco do meu nervo
brota uma onda de sal e líquido
procurando a porta do teu cais
teu nome já estava cravado nos meus dentes
desde quando Sísifo olhava no espelho
primeiro como Mar de Fogo
registro vivo das primeiras Eras

logo depois gravidez e parto

permitindo o logos

quando o amor quisera

Lys aos 18 anos

hoje frente ao espelho
vi o meu amor
aos 18 anos
não sei se estou sonhando
não sei se acordado estou
mas sei que o espelho me trouxe
direto de salvador
pelas mãos de algum santo
pela espada de Ogum
pelas estrela de Oxalá
pela pedra de Xangô
e o espelho agora reflete
toda luz que meu olhar encontrou

        diante do Espelho fico zen

chamo zeca baleiro de meu bem
canto a mama canto o papa
canto o negão do rappa
canto até quem não conheço
e não preciso de endereço
pra mandar cartão postal
canto a mina da esquina
que se chama Lys Cabral

Federika Lispector

https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/

        jura secreta 55

1

Xangô é parte da pedra
Exu fagulha de ferro
Ogum espada de aço
faz do meu colo teus braços

Oxossi é carne da mata
Yansã é fogo vento tempestade
Yemanjá água do mar
Oxum é água doce

Oxalá em ti me trouxe
te canto como se fosse u
m novo deus em liberdade

2

sou teu leão de fogo
todo jogo que me propor eu topo
beber teu copo comer da tua comida
encarar de frente a janela de entrada
e se for preciso a porta de saída

Artur Gomes

www.secretasjuras.blospot.com

osso. a ponte quebrada não me leva para o outro lado. olho o espelho d´água e tenho certeza que vou me afogar. engoli o vento da primeira madrugada a casa era caco de vidros. minha filha vaza os pés em rio das ostras. nunca mais pensei o mangue como a morada dos peixes e o canal passava atrás da varanda da cozinha. hoje estou sóbrio muito mais que embriagado pela maresia com esse cheiro de sexo evaporando pelos olhos e o corpo tremendo de susto por não ter com quem gozar.

        Espelho 1


não te quero apenas nas entre linhas
te quero também nas entre minhas
lá onde o amor lateja
quero que lá esteja
como uma estrela nua
desafiando a lua
nos lençóis de linho do mar

      Espelho 2


te procuro
desde os meus primeiros passos
desde os meus primeiros dias
quando te encontro em meus braços
faço de ti: poesia

      Espelho 3


fotografei o espelho
em tua íris retina
e revelei a menina
que em meus olhos havia
banhada de sal e sol
em pétalas de girassol
que os meus olhos comiam

        Espelho 4

diante desta metáfora
o espelho é só um truque
na trama do teatro que vivi

algumas imagens permanecem na medula da memória e me mantém vivo. ontem mesmo te vi à beira mar e mesmo não estando foi como se estivesse tatuada em minha pele com letras de sol e sal nos raios de luz do luar beijei teu nome nas algas e mergulhei no teu olhar.

     Pontal de Atafona

    jura secreta 115

este teu olho que me olha
azul safira
ou mesmo verde esmeralda fosse
pedra – pétala rara
carne da matéria doce
ou mesmo apenas fosse
esse teu olho que me molha
quando me entregas do mar
toda alga que me trouxe

     jura secreta 116

nossas palavras escorrem
pelo escorrer dos anos
estradas virtuais
fossem algaravias
nosso desejo que não se concreta

e
eu tenho a fome entre os dedos
a sede entre os dentes
e a língua sobre a escrita
que ainda não fizemos

e o que brota desse amor latente
se o desejo
é tua boca
no lençol dos dias?

     jura secreta 126

as orquídeas ainda são azuis
girassóis relâmpagos na chuva
na surpresa dentro a tempestade
dessa manhã que finda
pimenta tua boca em chamas
incendeia meus lençóis profana
essa linguagem como arco-íris
como fosse pulsação que arde
nas entranhas dessa luz de fogo
nos meus dentes mastigando a tarde

jura secreta 128

a carne que me cobre é fraca
a língua que me fala é faca
o olho que me olha vaca
alfa me querendo beta
juro que não sou poeta
a ninfa que me ímã quando arquiteta
o salto da abelha quando mel em flor
e pulsa pulsa pulsa pulsa pulsa
na matéria negra cor
quando a pele que veste é nada
éter pluma seda pelo
quando custa estar em arcozelo
desatar a lã dos fios do novelo
no sol de Amsterdã desvendar Hollandas
e os mistérios da palavra por entre os cotovelos

        jura secreta 129

a coisa que me habita é pólvora
dinamite em ponto de explosão
o país em que habito é nunca
me verás rendido a normas
ou leis que me impeçam a fala
a rua onde trafego é amplo
atalho pra o submundo
o poço onde mergulho é fundo
vai da pele que me cobre a carne
ao nervo mais íntimo do osso

         jura secreta 135


essa esfinge me devora
fosse Afrodite ou fosse Vênus
fenícia Fênix ou fosse Flora

muito seria de menos
o poema/nuvem em tua boca
como uma Ítaca de Creta
na mitologia sagrada
alguma jura secreta
na carne da Fênix de Fogo

o mar entre as coxas de Hera
o sol nos olhos de Íris
metáfora na ira de um deus

por quê me acordas Electra
se no sonho ainda sou Zeus?

Artur Gomes

www.secretasjuras.blospot.com

     terra,
antes que alguém morra
escrevo prevendo a morte
arriscando a vida
antes que seja tarde
e que a língua da minha boca
não cubra mais tua ferida.

amada de muitos sonhos
e pouco sexo
deposito a minha boca no teu cio
e uma semente fértil
nos teus seios como um rio

          domingo


mar de barco
mar de pele
mar de peixes
mar de algas
como um poema de Olga
onda de sal nas minhas mágoas
como sua pele de mel
com sua pele de água

            Terra

e vamos nós
cada vez mais ácido de vento
cada vez mais óxido de mar
ave de rapina e sua presa
envenenada indefesa
sem ter como me salvar

      jura secreta 45


de Dante a Chico Buarque
todos os poetas
já cantaram suas musas

Beatriz são muitas
Beatriz são quantas
Beatriz são todas
Beatriz são tantas

algumas delas na certa
também já foram cantadas
por este poeta insano e torto
pra lhes trazer o desconforto
do amor quando bandido

Beatriz são nomes
mas este de quem vos falo
não revelo o sobrenome

está no filme sagrado
na pele do acetato
na memória do retrato
Beatriz no último ato
da Divina Comédia Humana
quando deita em minha cama
e come do fruto proibido

      poÉtika


eu sou drummundo
e me confundo

na matéria amorosa
posso estar

na fina flor da juventude
ou atitude

de uma rima primorosa

e até na pele/pedra

 quando me invoco
e me desbundo baratino
e então provoco umbarafundo Cabralino

e meto letra no meu verso
estando prosa
e vou pro fundo
do mais fundo
o mais profundo
mineral Guimarães Rosa

         mar de búzios

vaza sob meus pés um Rio das Ostras
as minhas mãos em conchas
passeiam o mangue dos teus seios
e provocam o fluxo do teu sangue

os caranguejos olham admirados
a volúpia dos teus cios
quando me entregas o que traz
por entre as praias
e permites desatar
todos os nós do teu umbigo

transbordando mar de búzios
oceanos - atlântico pulsar entre dois corpos
que se descobrem peixes -
e mergulham profundezas
qualquer que seja a hora
em que se beijam num pontal
em comunhão total com a natureza

tem dias que a gente sente
o coração bater pulsar mais forte
como uma banda de rock

cezane não pintava flores

montado em seu cavalo alado
despeja cores
no corpo da mulher amada

com os pincéis
encravados entre as coxas
transformou Hollandas
em quintais de vento

reINventou o tempo
na hora de pintar

        jura secreta 138

rasguei as velas
que teci em tempestades
rompi as noites
em alto mar de maresias

pensei teu corpo
pra amenizar tanta saudade
e vi teus olhos em cada vela que tecia

                                 viagem


passear por tuas costas
gravar meu nome em tatuagem
para ficar no teu corpo
numa infinita viagem
me enfiar como queira
por entre a pele e o tecido
pra encontrar minha casa
dentro do teu vestido
me embriagar com teu gozo
me lambuzar com teu riso
quem sabe está em tua boca
a porta do paraíso

come vento menina
come vento. não há mais metafísica
no mundo do que comer vento

Federico Baudelaire

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/

        Folha Corrida

Acabo de ganhar um presente, um tesouro: Folha Corrida, livro que comemora os 70 anos do grande Poeta Sérgio de Castro Pinto, e os seus 50 anos de Poesia. Autor de Camões/Lampião, Poesia vencedora do II FestCampos de Poesia Falada.

Sérgio de Castro Pinto constrói sua Poesia como quem pinta um quadro expressionista através das palavras que lapida em cada verso.

o poeta septuagenário

o poeta
arrasta
os pés

e tropeça
nos versos
de pés
quebrados.

o poeta
não mais
se inspira.

o poeta
só inspira
cuidados

Sérgio De Castro Pinto
Folha Corrida - poemas escolhidos de 1967 a 2017Escrituras - www.escrituras.com.br

não sou casta
e sei o quanto custa
me jogar as quantas
quando vejo tantas
que não tem coragem
presas pela covardia
eu sou voragem
dentro da noite veloz
na vertigem do dia

Federika Lispector
https://www.facebook.com/federikalispector/ 

       Em face dos últimos acontecimentos

Oh! sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
Que o nosso avô português?

Oh ! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros,
sejamos tudo que quiserem,
sobretudo pornográficos.

A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).

Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
Fosse a última resolução.
Não compreendem, coitados
que o melhor é ser pornográfico.

Propõe isso a teu vizinho,
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
e à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
não quereis ser pornográficos? 

Carlos Drummond de Andrade

Poema Obsceno


Façam a festa
cantem e dancem
que eu faço o poema duro
o poema-murro
sujo
como a miséria brasileira

Não se detenham:
façam a festa
Bethânia Martinho
Clementina
Estação Primeira de Mangueira Salgueiro
gente de Vila Isabel e Madureira
todos
façam
a nossa festa
enquanto eu soco este pilão
este surdo
poema
que não toca no rádio
que o povo não cantará
(mas que nasce dele)

Não se prestará a análises estruturalistas
Não entrará nas antologias oficiais
Obsceno
como o salário de um trabalhador aposentado
o poema
terá o destino dos que habitam o lado escuro do
país
– e espreitam.

Ferreira Gullar
 

a navalha na carne

pode cortar
pode doer pode sangrar
e ferir fundo
prefiro a do do prazer
que o riso
sub imundo

Federika Lispector
https://www.facebook.com/federikalispector/

governantes de negócios


Aves de rapina
sobrevoam os céus
de Brazilírica
vender é grande jogo
dos governantes de negócio
não é metáfora metafísica
figura de linguagem
e pura sacanagem
eles dão o golpe
na calada da noite
no romper da madrugada
vendem a coisa pública
porque gostam da privada

Cristina Bezerra
https://www.facebook.com/sagaraninha/ 

o instante em tua coisa já


esta noite
vou roubar tua boca
e falar por entre
teus dentes e língua
me apossar do teu silêncio
da tua alma
do teu corpo
antes do amanhecer
já te terei em mim
em cada músculo
ainda vivo
em cada poro
entre teus pelos
minha língua
os meus dentes
minhas unhas
nada ficará em teu corpo
que não seja eu
em cada coisa que o instante é
eu quero estar em tua coisa já

Federika Lispetor
https://www.facebook.com/federikalispector/ 

Ente/Vistas

 

Concedendo entrevista ontem 15 de agosto 2025 a Raphael Fuly, licenciando em música no IFF Guarus, sobre a minha trajetória com Arte dentro da ETFC/CEFET/IFF, de 1968 a 2012. Raphael é orientando pela queridíssima amiga  Beth Rocha, parceira de grandes espetáculo de Teatro Musical que montamos no CEFET/IIF a partir de 1997, tais como “O Dia Em Que A Federal Soltou a Voz e Criou  Um Coro de 67 Vertebrados”, espetáculo que foi apresentado em 1997 no Auditório Miguel Ramalho, marcando a chegada  de Beth no CEFET/Campos e o meu retorno de uma licença prêmio para coordenar a Oficina de Artes Cênicas, que criei em 1975.

A entrevista foi realizada no Casarão - Centro Cultural, na Rua Salvador Correia, 171. Raphael Fuly, é integrande de uma banda formada por estudantes de música no IFF, contemplada em edital na lei Aldir Blanc, dia 22 deste a banda estará se apresentando no Museu Histórico de Campos, e um dos integrantes da mesma, Pablo Vinícius, que em 2022 participou do meu Projeto Geleia Geral – Semana de 22 – 100 Anos Depois, me pediu licença para nomear  a banda com o nome Balbúrdia PoÉtica, o que imediatamente autorizei, e no dia 22 pretendo batizá-la tornado-a minha afilhada.

Como bem disse lá pelos idos de 2005, quando fui contemplado no projeto Poesia Na Idade Mídia – Outros Bárbaros, de Ademir Assunção realizado no Itaú Cultural São Paulo, no poema VeraCidade: - por quê trancar as portas/tentar proibir as entradas/se eu já habito os teus 5 sentidos/e as janelas estão escancaradas.

* 

VeraCidade

 

por quê trancar as portas

tentar proibir as entradas

se já habito os teus cinco sentidos

e as janelas estão escancaradas ?

 

um beija flor risca no espaço

algumas letras de um alfabeto grego

signo de comunicação indecifrável

eu tenho fome de terra

e esse asfalto sob a sola dos meus pés

agulha nos meus dedos

 

quando piso na Augusta

o poema dá um tapa na cara da Paulista

 

flutuar na zona do perigo

entre o real e o imaginário

João Guimarães Rosa

Caio Prado

Martins Fontes

um bacanal de ruas tortas

 

eu não sou flor que se cheire

nem mofo de língua morta

o correto deixei na Cacomanga

matagal onde nasci

 

com os seus dentes de concreto

São Paulo é quem me devora

e selvagem devolvo a dentada

na carne da rua Aurora

 

Obs.: em 2023 quando fui convidado por Sylvia Paes, para voltar a prestar serviços na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, escrevi o projeto Campos VeraCidade, que até hoje está engavetado, porque não há interesse na gestão pública da cidade, em fomentar um projeto de Arte Cultura, que reflita profundamente sobre a cidade, no que ela foi, o que ela é e o que ela pode ser. 

*

Leia mais no blog

Artur Gomes A Biografia de Um Poeta Absurdo

https://fulinaimargem.blogspot.com/

As fotos são de Nilson Siqueira

                Balbúrdia Poética

Artur Gomes in Pessoa

nesta segunda 11 de agosto 15:30h

no C. E. Nilo Peçanha -

Campos dos Goytacazes-RJ

 

Itabapoana Pedra Que Voa

 

dia desses sonhei com alquimia

ciência da transformação

na prova dos nove é alegria

o coração da pedra vira pássaro

e voa para outra dimensão

 

Artur Gomes

do livro Itabapoana Pedra Pássaro Poema - Litteralux 2025 

https://www.instagram.com/p/DNMMsUevmB7/

Dia 27 agosto – 20h

Carioca Bar – Rua Francisca Carvalho de Azevedo, 17 – Parque São Caetano – Campos dos Goytacazes-RJ

 

Goytacá Boy

 

musicado e cantado por Naiman

no CD fulinaíma sax blues poesia

2002

ando por São Paulo meio Araraquara

a pele índia do meu corpo

concha de sangue em tua veia

sangrada ao sol na carne clara

juntei meu goytacá teu guarani

tupy or not tupy

não foi a língua que ouvi

em tua boca caiçara

 

para falar para lamber para lembrar

da sua língua arco íris litoral

como colar de uiara

é que eu choro como a chuva curuminha

mineral da mais profunda

lágrima que mãe chorara

 

para roçar para provar para tocar

na sua pele urucum de carne e osso

a minha língua tara

sonha cumer do teu almoço

e ainda como um doido curuminha

a lamber o chão que restou da Guanabara

 

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

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Por Onde Andará Macunaíma?

              jogo de dadaísta não sou iluminista/nem pretender eu quero o cravo e a rosa cumer o verso e a prosa devorar a lírica a métrica...